quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Ensinando a aprender, aprendendo a educar : Um pequeno olhar sobre as reflexões de Jean Piaget por Marcos Arêas Coimbra.


A teoria de Piaget busca compreender as etapas do desenvolvimento humano. Na realidade existem diferentes formulações sobre o assunto, sendo o trabalho deste autor um dos mais celebres, possuindo grande importância pelas suas conclusões na área da Educação.
O foco da teoria se dá em determinar as estruturas do desenvolvimento do indivíduo em suas diferentes fases de crescimento. Mesmo que estas não sejam regras absolutas para todos os seres humanos, pela observação constante e através de estudos com rigor científico, Piaget conseguiu montar um esquema geral em etapas.
Caso o pesquisador, ou o pensador, consiga captar estas estruturas gerais, estará mais preparado para compreender as capacidades, limites e necessidades de cada faixa etária, formulando planos de ensino, digamos, métodos educativos e outras práticas condizentes com o desenvolvimento do seu público alvo.
No entendimento das estruturas e dos casos individuais há alguns fatores que influenciam a análise. Estes aspectos estão sempre em interação, constantemente afetando o crescimento das capacidades humanas.
A hereditariedade é um aspecto quase a priori, já que a conformação genética do indivíduo está em sua composição de modo potencial desde seu nascimento. Caso ocorram as condições necessárias para estas potencialidades tornarem-se atos concretos, o desenvolvimento da inteligência potencial estará praticamente garantida.
O crescimento orgânico é outro aspecto fundamental. A formação da estrutura óssea da criança, seu crescimento, o aumento de sua sensibilidade etc, são condições para que o indivíduo seja capaz de usufruir de todo o seu potencial. Uma criança saudável, por exemplo, terá o seu momento de descoberta da fala e do andar, de modo que possa continuar o desenvolvimento de outras competências ou etapas. Já uma que possua limitações neste sentido seguirá um outro rumo, necessitando de todo um outro aprendizado, como para os surdos a linguagem de sinais, que também é uma opção bastante razoável e válida.
A maturação neurofisiológica torna possível o aprendizado. Conforme a pessoa cresce ela desenvolve capacidades intelectivas que vão sendo moldadas na conformidade de seu aprendizado. Naturalmente, tal como o lado puramente físico, seu desenvolvimento fica condicionado às suas potencialidades e à sua constituição natural. Dentro dos padrões gerais há períodos pré-determinados para a alfabetização e assim por diante em outros casos.
O meio seria o último fator, que, como dissemos, agindo de modo concorrente com os outros, influência e estimula o desenvolvimento. Aqui podemos perceber o papel crucial da educação na vida de um indivíduo, pois será na interação com outros indivíduos e com seu meio que a pessoa aprenderá regras de convivência, práticas sociais, e, sobretudo, atividades e aptidões em conformidade com sua competência. A fala de uma criança é conduzida profundamente pelo seu meio. Isto fica bastante evidente quando a criança entra em uma creche, ou vai para a escolinha, pois o seu desenvolvimento da fala e o repertório de palavras aumenta de modo a surpreender os pais.
Ao lado destes fatores internos do indivíduo, existem aspectos próprios do desenvolvimento humano que o condicionarão com a mesma intensidade.
Inicialmente os pesquisadores fazem referência ao aspecto físico-motor. Ou seja, conforme uma pessoa cresce ela vai adquirindo capacidades motoras, por exemplo, que a permitem tomar consciência - ou ser capazes - de novas práticas e intervenções no mundo externo. O exemplo da possibilidade de levar a mamadeira à boca é bastante representativo e ilustra com clareza este processo.
O aspecto intelectual é igualmente importante. O raciocínio, a habilidade de formular pensamento abstrato, é outro aspecto que estará determinando profundamente vida da pessoa. Aos poucos uma criança vai sendo capaz de criar relações de causalidade que a permite encontrar soluções para problemas, mesmo que para um adulto seja uma solução incabível ou perigosa. É o exemplo da criança que puxa a toalha da mesa para alcançar a lata de biscoitos. Ela tem um objetivo bastante legítimo, alcançar o biscoito, que está condizente com sua aptidão intelectual. O aprendizado das consequências é exatamente o fruto da maturação da capacidade intelectual associado ao aprendizado da experiência individual.
O aspecto afetivo-emocional e´ a sensibilidade. Diz respeito ao modo como o indivíduo responde à questões como a sua sexualidade, a nudez, o amor, o medo, a alegria, etc. A integração destes elementos formam a sensibilidade do indivíduo, que também está sempre influindo em suas escolhas e seu modo de ser.
Por fim o aspecto social, ou seja, o conjunto das ações e reações da pessoa diante de estímulos externos, como, por exemplo, sua interação com os amigos de classe em sua escola. Muito do modo como a criança é tratada em seu primeiros anos pode gerar questões e conflitos internos responsáveis por atitudes que somente serão compreendidas em suas razões e averiguado este passado social.
Os aspectos acima mencionados estão em constante interação e são indissociáveis. Diferentes abordagens psicológicas podem atribuir maior ou menor valor e atenção a algum deles. A psicanálise estaria mais afeita ao lado afetivo, às questões da sexualidade, já Piaget orienta-se com mais atenção pelo viés intelectual.
Piaget, então, formulará uma teoria do desenvolvimento humano focada em quatro períodos fundamentais, responsáveis por um panorama do desenvolvimento global do indivíduo. O primeiro (0 a 2 anos) é o período sensório-motor onde o que prevalece são os aspectos da vida mental condizentes com atos de reflexo.
O segundo momento (2 a 7 anos) é o pré-operatório em que a linguagem tem maior destaque. O terceiro é o das operações concretas (7 a 12 anos). Aqui é a capacidade de orientação de uma ação mental ou física a um objetivo e a sua reversão que constitui o foco de análise. Enfim o quarto momento (12 em diante) onde há a passagem do pensamento concreto para o abstrato.
Através do aprofundamento da pesquisa destes diversos momentos, que infelizmente não pode ser feito aqui, Piaget construiu um imenso e válido aparato teórico que até hoje auxilia tanto psicólogos e educadores em todo o mundo.

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