terça-feira, 19 de julho de 2011

A ARQUITETURA GÓTICA COMO SÍMBOLO DAS TRANSFORMAÇÕES DO OCIDENTE ( SÉCULOS XII-XV) por Marcos Arêas Coimbra.


As grandes mudanças verificadas na arquitetura a partir de meados do século XII, e que irão efetivamente se consolidar a partir do século XIII, podem ser lidas como um valioso instrumento no esforço de se entender as grandes transformações por que passava o mundo ocidental.

A passagem da arquitetura românica para a gótica ajuda-nos muito na formação do quadro mental destas transformações.

A estrutura de uma igreja românica era de uma solidez, com seu muros de pedra dominando quase toda a construção, que na realidade pareciam querer passar a mensagem, para o observador de que ali se encontrava, de uma fortaleza, ou seja, um espaço que visava proteger o que havia dentro.

No mundo interno de uma construção como essa estava, na mentalidade da época, a cidadela divina, que deveria a todo custo ser protegida do mundo exterior. Ali morava o sagrado, a Jerusalém celeste alheia à corrupção do mundo terreno.

Era um período onde a sacralidade era vivenciada como uma benção de poucos escolhidos, que rezariam para a salvação de todos os outros homens condenados ao pecado, isto estava de acordo com o imaginário coletivo. Assim era a mentalidade do período.

Dentro de um mosteiro românico o caráter soturno, de pouca luz, denotando a profunda sobriedade do lugar, era de algum modo condicionado por uma arquitetura ainda muito rudimentar, calcada em seus princípios pelas antigas construções civis do período imperial romano. Foram elas na verdade reapropriadas para a ideologia dominante do Cristianismo.

Com as intensas inovações que pululavam na entrada da Baixa Idade Média, surgiam novas construções, as catedrais, geralmente ocupando o espaço central das cidades, ou seja, já ambientadas em um outro meio, e por isso respondendo à um outro imaginário.

Com o desenvolvimento de novas técnicas, as naves e abóbodas cada vez mais leves, permitiram que surgissem nas paredes laterais os vitrais, enchendo de luz os espaço interno.

O interessante aqui é notar que um espaço pleno de luz e de cores determina, ou é determinado, por uma mudança simbólica de mentalidade. O espaço urbano, com sua aceitação cada vez maior do que é humano e terrestre, tem em seu seio enormes catedrais que passam duas mensagens, relatam dois dos princípios mais importantes na análise do que se transforma no mundo do ocidente:

1 - A grande altura que se quer alcançar, com catedrais cada vez mais altas até o desabamento do coro da catedral de Bourges - ou seja, a necessidade de se ampliar a manipulação ideológica da sacralidade pelas instituições que a detinham como monopólio seu;

2 - A mudança de mentalidade do Homem ocidental no modo de dar valor ao que é terreno. A sacralidade da luz permite o vislumbre de um contato maior com o sagrado, uma visão mais otimista do papel do humano, que no futuro chegará em sua última instância, no antropomorfismo.

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